A milícia que domina a maior parte das favelas da região da Praça Seca expandiu seus domínios e já cobra taxas de segurança de quem mora no asfalto. Há pelo menos um mês, integrantes de grupos paramilitares têm ido de casa em casa, em residências localizadas em alguns trechos do entorno da Cândido Benício, na altura dos bairros de Vila Valqueire, Campinho e Praça Seca, para entregar uma espécie de boleto. No papel, onde constam o nome do chefe de cada família, o endereço completo do imóvel e o mês vigente da cobrança, o valor mensal estipulado pelos milicianos é de R$ 50 .
Para casa de dois andares, o valor dobra para cem reais. A criação do carnê do crime também atinge comerciantes. Dependendo do tamanho da loja, do bar ou do restaurante, a cobrança, neste caso semanal, varia de cem a mil reais. O anúncio do carnê do crime deixou apavorados os moradores que já convivem com as constantes trocas de tiros, entre milicianos e traficantes, na Praça Seca e em áreas próximas.
— Eles foram de casa em casa. Estavam armados e disseram que estavam pedindo uma contribuição para segurança da área. Entregaram o papel e marcaram a data para voltar e recolher o dinheiro. A gente sabia que tinha milícia em algumas comunidades, mas descer assim para o asfalto é a primeira vez. Estou apavorado. Se eu não tiver dinheiro no fim do mês, não sei como vai ser — disse X, que mora na Praça Seca há mais de 15 anos.
Atualmente, a milícia já controla as comunidades do Morro da Rua Barão, Chacrinha, Fubá, Jordão e do Campinho. Denúncias recebidas pela polícia informam que, na semana passada, o grupo paramilitar da Praça Seca teria recebido um reforço de 50 homens armados, vindos de Santa Cruz. O efetivo teria sido cedido, de acordo com os levantamentos feitos pelos policiais, por Wellington da Silva Braga, o Ecko, para agilizar a tomada da favela Bateau Mouche, uma das poucas da região que ainda continua sendo controlada por traficantes. Chefe da maior milícia do Rio, Ecko está com a prisão decretada. O Disque-Denúncia (2253-1177) oferece recompensa de R$ 10 mil por informações que levem à prisão dele. Procurada para comentar o assunto, a Polícia Civil disse que a 28ª DP (Campinho) tem uma investigação em andamento sobre quadrilhas rivais, tanto de milicianos quanto de traficantes, que estabelecem disputa na região.
‘Até durante a noite eles batem na casa da gente’
Denúncias publicadas nas redes sociais revelam que a cobrança da milícia também chegou a alguns condomínios da Praça Seca, localizados próximos à comunidades. O preço estipulado pelos milicianos, de acordo com os internautas, é de R$ 50 por cada apartamento. Morador da região, Y. disse estar acostumado a viver no meio de uma guerra:
— Até durante à noite eles batem na casa da gente para pedir contribuição para segurança. A gente não tem o que fazer. É difícil morar aqui. De um lado tem tráfico e de outro a milícia. É tiro quase todo dia.
Um dos milicianos suspeitos de participar da expansão dos negócios do grupo paramilitar , na Praça Seca, é Edmilson Gomes Menezes. Com a prisão preventiva decretada pelo Tribunal de Justiça do Rio, ele é apontado pela polícia como sendo um dos líderes da milícia que atua na região. No ano passado, faixas foram afixadas em passarelas da Piedade e de Cascadura, denunciando que o grupo de Edmilson estaria extorquindo moradores e comerciantes da região.
Fonte: Extra.Globo