
Com a ajuda dos EUA, de boa parte dos países da América do Sul e de uma parcela da União Europeia, o líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, vem agindo estrategicamente para firmar-se, na prática, como presidente interino da Venezuela. Desta vez, o que diferencia as ações de opositores é sua unidade e articulação de medidas, sobretudo no exterior.
Partiu do governo americano a demonstração inédita, e talvez definitiva, para asfixiar a já corroída ditadura de Nicolás Maduro: o Departamento do Tesouro congelou US$ 7 bilhões em ativos da PDVSA e anunciou a transferência do controle de contas bancárias do governo venezuelano em território americano ao presidente do Legislativo.
Para se ter uma ideia do que a medida significa, os EUA são o maior importador de petróleo da Venezuela, absorvendo 30% de sua produção anual, que equivalem a 409 mil barris anuais. Guaidó iniciou processo na Assembleia Nacional para trocar os diretores da PDVSA e da Citgo, a subsidiária da petroleira nos EUA.

Mas não são apenas as sanções ao governo de Maduro que legitimam Guaidó diante do governo Trump. Dissidentes que fugiram do país para não ser presos assumem cargos essenciais no exterior.
- O interlocutor venezuelano em Washington passa a ser o opositor Carlos Vecchio, coordenador do partido Vontade Popular, o mesmo de Leopoldo López. Exilado há quatro nos EUA, foi nomeado pelo presidente da Assembleia Nacional para representá-lo e imediatamente respaldado pelo secretário de Estado, Mike Pompeo.
Da mesma forma, o líder opositor também já tem seu representante — o diplomata Gustavo Tarre Briceno — na OEA, que frequentemente ameaçava, em vão, a Venezuela de expulsão. Assim, sob o comando de Guaidó, a Assembleia Nacional, de maioria oposicionista, tenta assumir novamente o seu papel, após ser esvaziada pelo regime com a instalação de uma Constituinte.
De fora, somam-se deserções nas fileiras chavistas. Primeiro, o juiz do Tribunal Superior de Justiça Christian Zerpa, que fugiu para Washington às vésperas da posse de Maduro. No fim de semana, José Luis Silva, adido militar em Washington, alinhou-se a Guaidó. A vice-cônsul venezuelana em Miami, Scarlet Salazar, o reconheceu como presidente interino e apelou aos demais diplomatas venezuelanos no exterior que sigam seus passos.
- Maduro sabe o quanto tem a perder, caso persiga Guaidó ou tente prendê-lo, como fez anteriormente com Henrique Capriles, Leopoldo López e Manuel Rosales. Os tempos são outros, a oposição está unificada em torno do presidente da Assembleia Nacional. Tenta ganhar tempo e se diz disposto a negociar. As novas sanções dos EUA atingem o coração do regime, um ultimato de parte dos países europeus dá a Maduro até sábado para convocar novas eleições, e outra jornada de manifestações está programada para esta quarta feira.
Todas as iniciativas de negociação, até agora, fracassaram. Em vez da conciliação, a ditadura de Maduro estendeu seus tentáculos, controlando as instituições do Estado. Na última semana, 40 manifestantes morreram, 850 foram presos. Para a oposição, é tarde demais para o diálogo.
Fonte: G1