Cacau Protásio tem deixado sua casa, na Barra, duas vezes por semana, durante a quarentena. Munida de luvas, máscara e muito álcool gel, ela e amigos saem da segurança dos seus lares todo domingo para pedir doações de alimentos. Tudo o que é arrecadado vai para famílias que, com a crise econômica instalada junto com a pandemia de Covid-19, não têm o que comer.
— Somos muito privilegiados. Ficamos em casa, pedimos comida por aplicativo e assim vamos levando. Quem não tem nada, precisa sair. Sei que muitos estão sem o mínimo. Para que isso não aconteça, decidimos nos mobilizar — diz Cacau.
Ela se juntou a um grupo de amigos que começou a entregar quentinhas no Recreio há três semanas e logo passou a arrecadar alimentos para montar cestas básicas.
— Por mais que a gente tire do próprio bolso, não dá para ajudar a todos. Eu sou do grupo de risco por ser obesa e alérgica, mas, quando vejo a quantidade de pessoas pedindo ajuda, não consigo parar — diz ela, que, de carro, tem percorrido ruas e condomínios da Barra e das adjacências com um microfone e um amplificador.
Através de seu perfil no Instagram, @cacauprotasiooficial, a atriz divulga vídeos pedindo ajuda e anunciando quando e onde recolherá doações. Ela pede que todos façam uma visita a sua despensa para separar o que não for fazer falta.
Quem não quiser descer, diz Cacau, repetindo uma orientação que dá ao megafone sempre que chega a um condomínio, só precisa botar a doação no elevador e pedir ao porteiro que a entregue ao grupo.
Tudo começou quando o casal Bianka Camina e Danilo Calec decidiu entregar 55 quentinhas no Recreio. Donos de uma empresa de eventos, eles estão parados desde o início da quarentena e quiseram usar o tempo livre para ajudar o próximo: bancaram os custos e cozinharam marmitas em sua cozinha, em Vargem Grande. Além de Cacau, mais cinco amigos se uniram a eles e mudaram a estratégia: passaram a montar cestas básicas.
Os alimentos são destinados a comunidades como Barrinha, Cesar Maia, Jacaré e Salgueiro. Nas carreatas de arrecadação, feitas aos domingos, há sempre cestas já prontas, que têm sido entregues a guardadores de carros.
Através das redes sociais, Cacau presta contas de todas as entregas do grupo. Entre os condomínios que já somaram forças com as ações estão Barra One, Parque das Rosas, Barra Bonita, Rio 2 e Península, onde o cantor Belo prometeu repassar o equivalente a uma tonelada de alimentos ao movimento usando a renda arrecadada pela live que fez recentemente.
Segundo Bianka e Cacau, o apoio dos síndicos tem sido vital para o sucesso das ações. Moradores de edifícios das ruas Jornalista Henrique Cordeiro e Afonso Arinos de Melo Franco também se solidarizaram. Um deles, ao ver o volume arrecadado, muito maior do que o que os seis carros do comboio solidário podiam carregar, se uniu ao coletivo e disponibilizou o caminhão que usa para fazer fretes. Todos os itens estão sendo estocados no ateliê de uma das ativistas e na área de lazer da casa de Cacau, que, em plena quarentena, abriu mão do espaço em prol da causa.
Fonte: O Globo