O nome confuso induz ao erro dos mais desavisados, pois a proposta é para que exista uma moeda comum de intercâmbio comercial, o que não significaria o fim do Real ou do Peso Argentino. A ideia é inspirada na Unidade Real de Valor (URV), usada durante a transição do cruzeiro real para o real.
Segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles, o conceito é positivo, mas o que atrapalha são os quadros econômicos de cada país, principalmente o da Argentina, que fechou 2022 com inflação de 94,8%. O Brasil, por outro lado, encerrou o ano com a inflação em 5,79%.
“Substituir as moedas por uma outra só do Mercosul é algo difícil de acontecer e se torna prejudicial para o Brasil. A moeda brasileira é uma das mais fortes do bloco, principalmente se comparada à Argentina, que sofre pela dupla concorrência de moeda [peso e dólar] dentro do país”, disse a economista Natalie Verndl, doutoranda em Direito Financeiro na Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com ela, a criação de uma moeda que possa substituir as vigentes teria outras implicações. “Para fazer uma moeda única, teria que fazer um Banco Central para o Mercosul. Fazer política monetária para o Brasil é muito diferente de fazer política monetária para a Argentina“, declarou Verndl.
Com uma economia fragilizada e um descontrole monetário interno, o Metrópoles questionou se essa seria uma solução para a dolarização da economia dos hermanos. “A Argentina continuaria sendo refém do dólar, assim como o Brasil, pois o mundo é refém da moeda americana”, disse Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.
De acordo com Fabrício Gonçalvez, a inflação da Argentina pode atrapalhar, mas o bloco como um todo se beneficiaria da moeda comum. “Quem ganha com essa proposta claramente é o Mercosul, é a América Latina. A inflação na Argentina é o que atrapalha”, declarou.